Chuva em Floripa, gente batendo palma no meu portão, meus pits latindo. Da janela procuro saber do que se trata, mas não consigo escutar.
Como vejo que são duas moças, peço para aguardar um pouco. Sei que vou me molhar, mas sou educado e saio na chuva para atender - demora muito achar guarda-chuva nessa hora.
Chego na frente de casa muito molhado.
“Pois não!”, digo.
E elas se identificam, com crachás (estão com guarda-chuva, não se molham tanto): “Eu sou... e ela é... Somos do IBOPE e estamos fazendo uma pesquisa sobre radios AM/FM.”
Fiquei admirado, com 58 anos, foi a primeira vez na minha porca existência que o IBOPE ou qualquer instituto de pesquisa bateu na minha porta.
Eu, na chuva, pacientemente, e, surpreso, deixo uma delas falar. Após as explicações - eu na chuva - perguntam minha idade. Respondo.
Elas me perguntam: “Não tem ninguém mais novo na casa? É que a pesquisa é para pessoas novas...”
Deveria soltar os pits, mas digo que não. Eu na chuva.
Agradecem e vão embora.
Minha idiotice e educação não têm preço!
Um comentário:
Circula pela internet o texto de humor abaixo, que tem alguma relação com essa crônica:
Já aconteceu de você, ao olhar pessoas da sua idade, pensar: não posso estar assim tão velho(a)?
Veja o que conta uma amiga:
- Estava sentada na sala de espera para a minha primeira consulta com um novo dentista, quando observei que o seu diploma estava dependurado na parede.
Estava escrito o seu nome e, de repente, recordei de um moreno alto, que tinha esse mesmo nome. Era da minha classe do colegial, uns 30 anos atrás, e eu me perguntava: poderia ser o mesmo rapaz por quem eu tinha me apaixonado à época?
Quando entrei na sala de atendimento, imediatamente afastei esse pensamento do meu espírito. Esse homem grisalho, quase calvo, gordo, com um rosto marcado, profundamente enrugado, era demasiadamente velho pra ter sido o meu amor secreto.
Depois que ele examinou meus dentes, perguntei-lhe se ele estudou no Colégio Sacré Coeur.
- Sim, respondeu-me.
- Quando se formou? perguntei.
- 1965 . Por que esta pergunta?
- É que... bem... você era da minha classe, eu exclamei.
E então esse velho horrível, cretino, careca, barrigudo, flácido, filho de uma puta, lazarento, me perguntou:
- A senhora era professora de quê?
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