segunda-feira, 7 de junho de 2010

Problema ambiental no litoral sul SP e saúde pública


Pesquisadores do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP revelam que canal aberto em Iguape, em 1855, hoje despeja no braço de mar entre Iguape e Ilha Comprida (Mar Pequeno) quase 70% das águas do Ribeira de Iguape, que antes só chegavam ao Atlântico 40 quilômetros mais ao norte, onde o rio desemboca no oceano.

Toda essa água doce alterou as características físicas, químicas e biológicas do Mar Pequeno, parte do conjunto de lagunas, estuários, baías, ilhas e canais naturais que formam o complexo estuarino-lagunar Iguape-Cananeia-Paranaguá, um dos mais importantes viveiros de peixes e crustáceos do Atlântico Sul.

O que se passa no fundo do Mar Pequeno parece influenciar também a vida em suas margens. Na última década a bióloga Marília Lignon, que integrava outra equipe do IO-USP e hoje trabalha no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, vem monitorando as transformações na vegetação e na paisagem dessa região.

Além de alterações na salinidade da água e na composição orgânica dos sedimentos do Mar Pequeno, o geólogo Mahiques (diretor do IO-USP) e sua equipe verificaram também uma alteração química que preocupa: níveis elevados de metais pesados, em especial o chumbo. É que esse elemento químico – tóxico, poluente e de difícil degradação – pode entrar na cadeia alimentar marinha, acumular-se no organismo de espécies de alto valor comercial, como robalos, pescadas, manjubas, camarões, ostras e mexilhões, e chegar às pessoas, causando danos no sistema nervoso central.

O sedimento extraído das imediações do Valo Grande continha teor de chumbo até 20 vezes superior ao de antes da abertura do canal – a 20 quilômetros do canal o nível de chumbo no sedimento diminui, mesmo assim é cinco vezes mais elevado que antes.

Durante a atividade da empresa de mineração Plumbum, que funcionou de 1945 a 1995 em Adrianópolis, no Paraná, “resíduos desse metal [chumbo] chegavam ao rio Ribeira de Iguape e eram transportados até a laguna, onde entravam pelo Valo Grande”, afirma Mahiques. Com o fim da Plumbum, o teor de chumbo nos sedimentos caiu, mas ainda não retornou aos níveis de pré-atividade industrial: hoje é em média cinco vezes superior ao esperado para a região.

Já se sabe que muitas pessoas que viviam nas proximidades da Plumbum têm altas concentrações de chumbo no organismo. Mesmo assim, Mahiques pretende verificar se as plantas e os animais da região de Iguape e Cananeia não absorveram parte do chumbo que ainda está no sedimento do Mar Pequeno, o que aumentaria o risco de contaminação humana. “Talvez”, diz Mahiques, “não tenhamos apenas um problema ambiental e geológico, mas também de saúde pública”.

Cf. artigo: MAHIQUES, M. M. et al. Anthropogenic influences in a lagoonal environment: a multiproxy approach at the Valo Grande mouth, Cananeia-Iguape system (SE Brazil.Brazilian Journal of Oceanography. v. 57, p. 325-37. out./dez. 2009.

Texto resumido e adaptado de Francisco Bicudo, Paraíso Poluído, Revista Pesquisa FAPESP, maio 2010.

Leia o texto completo em www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=4137&bd=1&pg=1&lg=

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